Após anos de incertezas e uma série de trabalhos técnicos que não convenceram, a seleção brasileira finalmente inicia uma nova era sob a batuta de Carlo Ancelotti. O renomado treinador italiano, que deixou o Real Madrid para assumir o comando da equipe canarinho, marca um momento histórico ao se tornar o primeiro estrangeiro a ocupar o cargo de forma fixa em cinco décadas. Sua chegada encerra um longo tabu e representa a esperança de reerguer o futebol pentacampeão. A jornada até a confirmação de Carlo Ancelotti foi, contudo, permeada por uma complexa teia de rumores, expectativas frustradas e reviravoltas dramáticas, revelando os bastidores de uma negociação intrincada. A saga da Confederação Brasileira de Futebol para trazer o técnico mais desejado pelo país é um capítulo à parte, repleto de momentos decisivos que moldaram o destino da equipe.
O início dos rumores e a expectativa nacional
Primeiros contatos e o interinato de Ramon Menezes
A busca por um novo técnico para a seleção brasileira ganhou contornos dramáticos após a saída de Tite, que deixou o comando da equipe logo após a Copa do Mundo de 2022, conforme já havia sido planejado. A vaga, considerada uma das mais cobiçadas do futebol mundial, gerou um vácuo de liderança. Em meio à indefinição, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), sob a então presidência de Ednaldo Rodrigues, nomeou Ramon Menezes, ex-jogador com passagens históricas por Vasco e Vitória, como treinador interino. Essa decisão provisória marcou o início de um período de incertezas, enquanto os primeiros murmúrios sobre um possível interesse em Carlo Ancelotti começavam a circular nos bastidores do futebol, acendendo a chama da esperança em milhões de torcedores.
O aquecimento da especulação e o envolvimento de jogadores
A especulação em torno da vinda do italiano ganhou força notável a partir de março de 2023. Naquele momento, o próprio dirigente da entidade máxima do futebol nacional comentou publicamente sobre o assunto, validando indiretamente os boatos que já fervilhavam. A situação atingiu um novo patamar de interesse quando jogadores brasileiros que atuavam no Real Madrid, na época comandado por Ancelotti, começaram a brincar abertamente com a possibilidade de tê-lo como técnico da seleção. Essa interação dos atletas, aliada às declarações do presidente, transformou o interesse em Ancelotti em um tema central no noticiário esportivo brasileiro, criando um clima de grande expectativa e ansiedade sobre o futuro comando da equipe.
As reviravoltas: frustração, anúncios e irritação
A permanência no Real Madrid e o anúncio precoce da CBF
O entusiasmo inicial dos torcedores e da imprensa brasileira enfrentou um revés significativo em maio de 2023. Naquela ocasião, a primeira grande frustração na negociação com Carlo Ancelotti veio à tona com a confirmação de sua permanência no Real Madrid. Apesar de uma derrota expressiva para o Manchester City na semifinal da Liga dos Campeões da Europa, o presidente Florentino Pérez garantiu a continuidade do técnico para a temporada seguinte, desanimando as esperanças brasileiras. Contudo, o cenário mudou drasticamente em junho. Durante a transmissão de um amistoso da seleção contra Guiné, a notícia de que a CBF já dava a contratação de Ancelotti como certa foi divulgada, pegando a todos de surpresa e reacendendo a euforia nacional, mesmo sem um acordo formalizado. No mês seguinte, a situação se “oficializou”: através de um vídeo, Ednaldo Rodrigues confirmou Fernando Diniz como interino até a chegada definitiva de Ancelotti, prevista para junho de 2024, antes da Copa América.
A reação de Ancelotti e a gafe na universidade
O anúncio precipitado feito pela Confederação Brasileira de Futebol gerou uma considerável irritação em Carlo Ancelotti, que não havia formalizado qualquer acordo com a entidade brasileira. Durante a pré-temporada do Real Madrid nos Estados Unidos, em julho de 2023, o treinador foi confrontado com perguntas sobre a seleção e reagiu de forma incisiva. “Eu nunca vou falar sobre o Brasil. Sou técnico do Real Madrid e vou ficar. Não vou mais falar sobre esse assunto”, declarou o italiano em coletiva de imprensa, evidenciando seu descontentamento com a exposição do tema. Meses depois, o assunto voltou à tona de uma maneira inusitada: Ancelotti foi vítima de uma gafe. Durante um evento em que recebia o título de Doutor Honoris Causa em Ciências e Técnicas de Atividades Motoras Preventivas e Adaptadas na Universidade de Parma, na Itália, o reitor Paolo Andrei acabou por “revelar” que o técnico assumiria o Brasil. De volta ao Real Madrid, Ancelotti buscou despistar sobre o ocorrido, minimizando o episódio como “rumores e especulações” e afirmando que tudo seria esclarecido em breve, reiterando seu foco no clube espanhol.
O suposto fim do sonho e a reviravolta inesperada
Renovação com o Real Madrid e declarações do técnico
Em dezembro de 2023, o sonho brasileiro de ter Carlo Ancelotti no comando técnico da seleção parecia desvanecer-se de vez. Ancelotti frustrou as expectativas, especialmente as de Ednaldo Rodrigues, que havia sido destituído do cargo da CBF, ao assinar a renovação de seu contrato com o Real Madrid, estendendo seu vínculo até 2026. Em entrevista concedida após a extensão de seu acordo, o italiano revelou que, de fato, havia mantido contato com o então presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, expressando gratidão pelo carinho e interesse demonstrados. No entanto, sua vontade de permanecer no clube espanhol prevaleceu. Ancelotti fez questão de esclarecer que a sua decisão dependia integralmente de sua situação no Real Madrid e mencionou a saída de Ednaldo da presidência da confederação como um fator subsequente. Ele admitiu que ser técnico da seleção era um grande sonho, mas ponderou se, em 2026, o Brasil ainda o desejaria e estaria satisfeito com sua decisão. Mesmo enfrentando um elenco com diversas lesões, Ancelotti liderou o Real Madrid à sua 15ª conquista da Liga dos Campeões da Europa em junho, derrotando o Borussia Dortmund na final, um feito que reforçava sua permanência.
A queda de Dorival Júnior e a nova busca por Ancelotti
Apesar da conquista da Champions League e da adição de um craque como Kylian Mbappé ao elenco do Real Madrid, a temporada 2024/25 não foi como o esperado para o clube merengue. Vini Jr. viu seu desempenho cair após não conquistar a Bola de Ouro, e Jude Bellingham sofreu com lesões, não conseguindo replicar o alto nível exibido anteriormente. As performances ruins da equipe levaram Ancelotti a ser alvo de pesadas críticas. Paralelamente, Dorival Júnior, que havia assumido a seleção brasileira após a saída de Fernando Diniz, enfrentava forte pressão. Sob seu comando, a equipe canarinho foi eliminada nas quartas de final da Copa América e apresentava um desempenho insatisfatório nas Eliminatórias para a Copa do Mundo. A vexatória derrota por 4 a 1 para a Argentina no Monumental de Núñez selou o destino de Dorival, que não resistiu à pressão e foi demitido. Com a vaga novamente aberta, a CBF voltou à estaca zero na busca por um treinador, e, mais uma vez, Carlo Ancelotti ressurgiu como o principal nome na lista de desejos.
A concretização do acordo e a apresentação oficial
Saída do Real Madrid e a chegada ao Brasil
Pouco depois da demissão de Dorival Júnior, a situação de Carlo Ancelotti no Real Madrid tornou-se insustentável. A eliminação nas quartas de final da Liga dos Campeões para o Arsenal, em abril deste ano, abalou a confiança no treinador. Ancelotti, que antes sempre falava em cumprir seu contrato e na extrema confiança dos diretores, passou a mencionar o final da temporada – um ano antes do término de seu vínculo – como um momento para discutir seu futuro no clube. No Brasil, ele continuava sendo apontado como o favorito para assumir a seleção. Em maio, Ednaldo Rodrigues, reassumindo a presidência da CBF, fez um novo anúncio: a contratação de Ancelotti. Poucos dias depois, antes da última rodada do Campeonato Espanhol, Carlo Ancelotti confirmou, em coletiva de imprensa, que estava deixando o Real Madrid ao término da temporada, abrindo caminho para o desfecho de uma das mais longas e complexas negociações do futebol brasileiro.
As primeiras palavras e a ausência de Neymar na convocação
Poucos dias após sua emocionada despedida do Real Madrid, Carlo Ancelotti desembarcou no Rio de Janeiro, onde foi oficialmente apresentado como novo treinador da seleção brasileira. Durante o evento, o italiano divulgou sua primeira convocação e concedeu uma coletiva de imprensa, onde expressou seu imenso orgulho e a honra de comandar a “melhor seleção do mundo”. Ele destacou sua profunda conexão com o futebol brasileiro, cultivada ao longo de décadas através de inúmeros jogadores que treinou, como Cerezo, Falcão, Ronaldo, Rivaldo, Kaká, Marcelo, Cafu e muitos outros. Ancelotti ressaltou o desafio de fazer o Brasil voltar a ser campeão, pedindo o apoio de todos e expressando sua alegria e animação com a nova fase.
A maior polêmica de sua primeira convocação foi a notável ausência de Neymar. O treinador explicou a decisão: “Nesta convocação, tentei selecionar jogadores que estão bem. Neymar teve uma lesão há pouco tempo. Todos sabem que ele é um jogador muito importante, sempre foi e sempre será. Infelizmente, atualmente temos muitos jogadores que sofrem lesões e que não podem estar na seleção. O que eu quero dizer é que o Brasil tem muitos jogadores talentosos e logicamente, no caso específico de Neymar, contamos com ele. Ele voltou ao Brasil para jogar para se preparar bem para a Copa do Mundo. Eu falei com ele nesta manhã e ele está totalmente de acordo com a decisão”, esclareceu o técnico, apaziguando os ânimos.
Os primeiros passos de Ancelotti no comando técnico
Estreia na altitude equatoriana e a vitória decisiva contra o Paraguai
No dia 5 de junho, Carlo Ancelotti fez sua aguardada estreia no comando da seleção brasileira. O cenário foi desafiador: o Estádio Atahualpa, em Quito, a uma altitude de 2.850 metros, contra o Equador. Com pouco tempo para treinos e implementação de seu esquema tático, a equipe não conseguiu criar muitas chances de gol, mas demonstrou solidez defensiva, resultando em um empate sem gols. Em coletiva pós-jogo, Ancelotti elogiou a performance defensiva, mas reconheceu a falta de brilho no ataque, atribuindo parte da dificuldade às condições de jogo e à bem organizada defesa equatoriana.
No jogo seguinte, diante do Paraguai, Carlo Ancelotti, que celebrava 66 anos de idade, recebeu um presente especial na Neo Química Arena, em São Paulo: a classificação antecipada para a Copa do Mundo. A equipe canarinho teve uma atuação sólida e, com um gol decisivo de Vinicius Júnior, derrotou a Albirroja por 1 a 0, garantindo a vaga para o Mundial.
A preparação para a Copa e os primeiros testes em campo
Após a vitória sobre o Paraguai e a garantia da classificação, Carlo Ancelotti iniciou oficialmente a preparação do Brasil para a Copa do Mundo de 2026, que será disputada na América do Norte. Os dois últimos compromissos pelas Eliminatórias, já com a classificação assegurada, foram contra Chile e Bolívia. No Maracanã, a seleção, liderada por Estêvão, conquistou uma tranquila vitória por 3 a 0. Já na altitude de El Alto, uma equipe alternativa foi derrotada por 1 a 0, revelando a necessidade de ajustes em diferentes condições.
No mês seguinte, o Brasil realizou seus primeiros amistosos sob a batuta de Ancelotti, enfrentando Coreia do Sul e Japão. Em Seul, a equipe apresentou sua melhor atuação na “era Ancelotti”, com uma vitória convincente por 5 a 0 sobre os sul-coreanos, demonstrando o potencial ofensivo. Em Tóquio, entretanto, veio a pior performance: o Brasil abriu 2 a 0 no primeiro tempo, mas uma série de falhas individuais resultou na virada e em uma derrota inédita para os nipônicos. O ano foi encerrado com dois confrontos contra seleções africanas: um triunfo confortável por 2 a 0 sobre Senegal e um empate em 1 a 1 com a Tunísia, em um jogo onde a questão física pesou.
Até a Copa do Mundo, o Brasil tem mais quatro amistosos agendados. Dois deles, já confirmados para março nos Estados Unidos, serão contra potências europeias: França e Croácia. Os dois últimos, com adversários ainda a serem divulgados, serão disputados pouco antes do início do Mundial, com a convocação final já definida, marcando os últimos testes antes do grande torneio.
Perguntas frequentes sobre a chegada de Ancelotti
Quem é Carlo Ancelotti?
Carlo Ancelotti é um renomado treinador de futebol italiano, considerado um dos mais bem-sucedidos da história. Sua carreira como técnico inclui passagens por clubes como Milan, Chelsea, Paris Saint-Germain, Bayern de Munique e Real Madrid, onde conquistou múltiplos títulos nacionais e internacionais, incluindo um recorde de cinco Ligas dos Campeões da Europa como treinador. É conhecido por sua liderança calma e sua habilidade em gerenciar grandes elencos.
Qual o significado da chegada de Ancelotti para a seleção brasileira?
A chegada de Carlo Ancelotti à seleção brasileira é histórica e marca o fim de um tabu de 50 anos, já que ele é o primeiro treinador estrangeiro a assumir o comando da equipe de forma fixa nesse período. Sua contratação representa uma aposta na experiência e no prestígio de um técnico vitorioso para reerguer o futebol brasileiro e liderar a equipe na busca pelo hexacampeonato mundial, trazendo novas metodologias e uma perspectiva global.
Quais foram os primeiros desafios e resultados de Ancelotti no Brasil?
Os primeiros desafios de Ancelotti no comando da seleção brasileira incluíram adaptar-se à altitude na estreia contra o Equador (empate em 0 a 0) e garantir a classificação para a Copa do Mundo, o que ocorreu com uma vitória por 1 a 0 sobre o Paraguai. Posteriormente, a preparação para o Mundial incluiu amistosos, como a goleada por 5 a 0 contra a Coreia do Sul e a surpreendente derrota para o Japão. Ele tem buscado implementar seu estilo de jogo enquanto lida com a pressão e as expectativas de milhões de torcedores.
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Fonte: https://esporte.ig.com.br





