A validação rápida do segundo gol do Flamengo contra o Cruz Azul, na Copa Intercontinental, foi um exemplo claro da eficiência da tecnologia da linha do gol. Esse sistema avançado utiliza um conjunto de câmeras para determinar instantaneamente se a bola cruzou a meta, enviando um alerta ao árbitro. Apesar de sua capacidade de resolver lances capitais e evitar polêmicas, essa tecnologia permanece ausente no Campeonato Brasileiro, levantando questionamentos entre torcedores e especialistas. Os motivos para sua não implementação no Brasileirão envolvem, principalmente, questões econômicas significativas e uma percepção de baixa demanda em comparação com outras prioridades. Exploraremos os custos envolvidos e as razões por trás dessa decisão.
Os altos custos da implementação no futebol brasileiro
A ausência da tecnologia da linha do gol no Campeonato Brasileiro não se deve à falta de reconhecimento de sua eficácia, mas sim a barreiras financeiras consideráveis. A adoção desse tipo de sistema exige um investimento substancial, tanto na fase de instalação quanto na manutenção e operação contínua. As ligas e federações que optam por essa inovação enfrentam um dilema entre o aprimoramento da arbitragem e os impactos orçamentários.
Instalação e manutenção: um investimento milionário
Um dos sistemas aprovados pela FIFA, como o da empresa alemã Goal Control, oferece uma visão clara dos custos envolvidos. A instalação da tecnologia em um único estádio pode atingir a cifra de US$ 260 mil, o equivalente a aproximadamente R$ 1,47 milhão na conversão direta atual. Considerando que o Brasileirão é disputado em múltiplas sedes por todo o país, equipar todos os estádios participantes do campeonato implicaria um custo que facilmente superaria os R$ 26 milhões somente para a instalação inicial.
Além do investimento inicial, há os custos operacionais. A Goal Control, por exemplo, cobra cerca de US$ 3,9 mil (aproximados R$ 22 mil) por jogo para a operação do sistema. Multiplicando esse valor pelos 380 jogos disputados em uma única edição do Campeonato Brasileiro, o montante anual para a operação da tecnologia da linha do gol alcançaria US$ 1,482 milhão, o que representa cerca de R$ 8,42 milhões. Esses valores, somados, pintam um quadro de despesas anuais na casa das dezenas de milhões de reais, um montante que muitas vezes é considerado inviável diante de outras prioridades financeiras das entidades esportivas brasileiras. A discussão sobre a priorização desses investimentos em um cenário onde recursos são limitados é um fator crucial na decisão de não implementar a tecnologia.
Perspectivas internacionais e o dilema entre tecnologia e economia
O debate sobre os custos e a viabilidade da tecnologia da linha do gol não é exclusivo do futebol brasileiro. Em diversas ligas ao redor do mundo, a discussão entre a modernização da arbitragem e o impacto financeiro tem sido uma constante. As experiências europeias, em particular, oferecem exemplos variados de adoção e resistência a essas inovações, mostrando que não há unanimidade global sobre a necessidade ou a acessibilidade desses sistemas.
Experiências europeias: da Premier League à resistência de La Liga
A Premier League, uma das ligas mais ricas e prestigiadas do mundo, foi pioneira na implementação da tecnologia da linha do gol em 2013. Naquele período, cada clube britânico precisou desembolsar 15 mil libras (equivalente a R$ 113 mil na cotação atual, sem considerar ajustes inflacionários) à FIFA para a instalação do sistema e para obter o selo de qualidade da entidade. O custo por estádio chegava a 250 mil libras (aproximadamente R$ 1,89 milhão). A decisão da Premier League de arcar com esses custos reflete sua capacidade econômica e seu compromisso em minimizar erros de arbitragem em lances cruciais.
Em contraste, outras grandes ligas europeias, como a La Liga (Campeonato Espanhol), optaram por não adotar a tecnologia da linha do gol. O presidente da La Liga, Javier Tebas, é um conhecido opositor da medida, citando os altos custos como principal barreira. Para Tebas e para a própria competição, o sistema de Árbitro de Vídeo (VAR) já cumpre satisfatoriamente o papel de auxiliar na validação de gols e na correção de erros. Fontes ligadas à La Liga defendem que, desde sua implementação, o VAR resolveu com sucesso quase 3.000 situações que exigiam a verificação da linha do gol, tanto na primeira quanto na segunda divisão. Essa perspectiva sugere que, para algumas ligas, o VAR é considerado uma solução abrangente e mais custo-efetiva.
No Brasil, a tecnologia de chip na bola, similar à utilizada na Copa do Mundo de 2014 com a Brazuca, também foi vetada após o torneio por problemas financeiros semelhantes. A falta de recursos e a preferência por outras aplicações do VAR em vez de uma tecnologia exclusiva para a linha do gol reforçam a posição de que a economia é o principal entrave para a modernização completa da arbitragem no país.
O futuro da tecnologia no Brasileirão
A análise dos custos de implementação e operação, aliada às diferentes abordagens adotadas pelas ligas internacionais, sugere que a tecnologia da linha do gol não deve ser uma realidade próxima no Campeonato Brasileiro. Embora a eficácia do sistema seja inquestionável, como demonstrado em torneios como a Copa Intercontinental, os elevados valores envolvidos representam um obstáculo significativo para sua adoção em um cenário econômico como o do futebol brasileiro.
A priorização de investimentos em outras áreas, a percepção de que o VAR já mitiga grande parte das polêmicas relacionadas à linha do gol e a ausência de uma “demanda” ou pressão suficiente por parte dos clubes ou torcedores para justificar um desembolso tão grande, contribuem para que a medida permaneça em segundo plano. Sem uma mudança substancial na estrutura de custos da tecnologia ou um novo modelo de financiamento, a validação instantânea de gols na linha, como visto no Flamengo, continuará sendo um luxo reservado a poucos torneios e ligas globalmente.
Perguntas frequentes (FAQ)
O que é a tecnologia da linha do gol e como ela funciona?
A tecnologia da linha do gol é um sistema eletrônico que determina instantaneamente se a bola cruzou completamente a linha do gol. Utiliza um conjunto de câmeras de alta velocidade ou sensores magnéticos (como o chip na bola) para rastrear a posição da bola em relação à baliza. Assim que a bola ultrapassa a linha, um sinal é enviado em tempo real para um relógio especial usado pelo árbitro, alertando-o sobre o gol.
Por que o Campeonato Brasileiro ainda não adota essa tecnologia?
A principal razão para a não adoção da tecnologia da linha do gol no Brasileirão são os altos custos. A instalação em todos os estádios da Série A e a manutenção anual do sistema, que inclui a operação por jogo, representam um investimento milionário. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e os clubes, historicamente, priorizam outros investimentos e consideram o VAR suficiente para auxiliar na maioria das decisões de gol.
Outras grandes ligas da Europa utilizam a tecnologia da linha do gol?
Sim, algumas das maiores ligas da Europa utilizam, como a Premier League (Inglaterra) e a Bundesliga (Alemanha). No entanto, não há unanimidade. A La Liga (Espanha), por exemplo, optou por não implementar a tecnologia, com seu presidente, Javier Tebas, argumentando que o VAR já atende às necessidades de validação de gols de forma custo-efetiva.
O chip na bola já foi utilizado em competições no Brasil?
Sim, o chip na bola foi utilizado no Brasil durante a Copa do Mundo de 2014, com a bola Brazuca, para auxiliar na validação de gols. No entanto, após o torneio, a tecnologia não foi mais implementada em competições nacionais devido aos altos custos de manutenção e operação, que a tornaram inviável financeiramente para o contexto do futebol brasileiro.
E você, torcedor, acredita que o investimento na tecnologia da linha do gol deveria ser uma prioridade no futebol brasileiro, ou o VAR já cumpre seu papel adequadamente? Compartilhe sua opinião nos comentários e junte-se ao debate!
Fonte: https://www.estadao.com.br