Quase duas horas após o apito final da primeira conquista da Major League Soccer (MLS) pelo Inter Miami, Lionel Messi, vestindo uma camisa cinza de campeão ainda úmida de celebração, concedia uma entrevista com suas chuteiras cor-de-rosa ainda nos pés. Aqueles mesmos pés mágicos haviam orquestrado os três gols na vitória por 3 a 1 sobre o Vancouver Whitecaps, selando um título que não apenas coroa a meteórica ascensão do clube, mas também encerra um ciclo e inaugura uma era de ambição sem precedentes.
A cena, com Messi partindo do Chase Stadium — um estádio temporário que simboliza o quão recente é a trajetória do Inter Miami — em seu Cadillac Escalade, marcou o fim do que o próprio clube chamou de “Messi em Miami 1.0”. A chegada do lendário argentino em 2023 transformou uma organização recém-formada em uma marca global, e o título da MLS em sua sexta temporada pareceu o desfecho perfeito para este primeiro capítulo, especialmente no último ano do estádio provisório.
O Brilho Estelar de Messi e os Desafios Iniciais
O impacto de Messi foi imediato e inegável. Sua genialidade se manifestou no primeiro gol, com um drible preciso seguido de um passe para Tadeo Allende, e na assistência brilhante para outro gol de Allende, dominando a bola no peito e lançando-a com precisão. “Há três anos, decidi vir para a MLS e hoje somos campeões da MLS”, disse Messi, expressando a satisfação de um momento tão esperado.
No entanto, a trajetória do Inter Miami com Messi não foi isenta de percalços. Após um início emocionante em 2023, que culminou com a vitória na Copa da Liga, parecia que o Miami seria imparável. Mas lesões de Messi o afastaram de grande parte do final da temporada regular, e o clube, que estava na lanterna antes de sua chegada, não conseguiu se classificar para os playoffs. A temporada seguinte trouxe mais desafios, com a eliminação da Copa dos Campeões da Concacaf para o Monterrey e uma surpreendente derrota nos playoffs da MLS para o Atlanta United, mesmo após conquistar o Supporters’ Shield.
Essas derrotas levantaram questões sobre a validação esportiva do projeto. Com Tata Martino renunciando e a equipe se sentindo à deriva, parecia crucial para o Miami provar que Messi era mais do que um impacto comercial. O novo técnico, Javier Mascherano, ex-companheiro de Messi na Argentina e no Barcelona, insistiu que a equipe estava aprendendo com os erros. O avanço do Miami para as oitavas de final do Mundial de Clubes, apesar da derrota para o Paris Saint-Germain, já demonstrava um crescimento.
Despedidas e a Genialidade que Permanece
À medida que a temporada avançava, Messi, o camisa 10, parecia determinado a conquistar um troféu, especialmente porque o fim de uma era se anunciava. Cercado por velhos amigos e ex-companheiros de Barcelona como Jordi Alba, Sergio Busquets e Luis Suárez, ele viu a iminente saída de Alba e Busquets, que anunciaram suas aposentadorias. Messi deixou claro seu desejo de se despedir deles com um título, e sua performance foi um testemunho disso. Ele marcou oito gols nos cinco jogos seguintes ao Mundial de Clubes e, a partir de agosto, engatou uma sequência impressionante de 11 gols e 10 assistências nos últimos 10 jogos da temporada regular, com um desempenho ainda mais notável nos playoffs, somando seis gols e nove assistências em seis partidas.
“Estou feliz que eles possam sair com este título”, afirmou Messi, marcando o fim de uma parceria vitoriosa que transcendeu clubes e gerações. O Inter Miami encerrou, assim, o primeiro capítulo da era Messi, mas a ambição do clube não se esgota aqui.
O Inter Miami Rumo ao Futuro: Estádio Bilionário e Novas Estrelas
O que vem a seguir para um clube que proclama “Ainda não acabou”? A próxima era do Inter Miami será marcada pela inauguração do Miami Freedom Park, um estádio bilionário que servirá como um lar mais adequado para um clube liderado por Messi. Essa transição física e simbólica foi reforçada pela extensão de contrato de três anos de Messi, assinada no próprio local da construção, indicando seu compromisso com a próxima, e provavelmente última, fase de sua carreira como jogador.
No campo, a equipe já se prepara para o futuro. Luis Suárez, de 38 anos, poderá retornar como reserva. Rodrigo De Paul, companheiro de Messi na seleção argentina, ocupará uma das vagas de jogador designado deixadas por Busquets e Alba. A performance explosiva do Inter Miami nos playoffs pode fazer com que o clube repense a estrutura de seu próximo projeto, buscando outro grande nome para preencher a vaga restante de jogador designado, sempre refletindo a ambição que trouxe Messi ao clube. “Hoje nos despedimos de dois jogadores que marcaram gerações”, disse o proprietário Jorge Mas, “Mas vamos nos reerguer.”
Messi e a MLS: Uma Nova Fronteira de Ambição
A transição de Messi para uma possível condição de proprietário do Inter Miami parece cada vez mais real, e seus comentários recentes à NBC sobre a necessidade da MLS crescer e mudar o colocam em sintonia com a filosofia do clube. O Inter Miami sempre se opôs à abordagem mais conservadora da liga em relação aos gastos, e a inclusão de De Paul como jogador designado é uma prova de que o clube continuará a buscar soluções inovadoras.
O sucesso do Inter Miami em 2025 servirá como mais uma demonstração de que a MLS é uma liga que clama por mudanças, e que os níveis certos de ambição, investimento e estrelas podem impulsionar o futebol norte-americano a novos patamares. Essa ideia ecoa o risco que David Beckham assumiu ao se juntar à MLS em 2007, mudando a liga com a criação da regra do jogador designado. Agora, o Inter Miami, com Messi como catalisador, está conduzindo a MLS rumo à sua próxima fase.
A imagem de Messi erguendo a taça da MLS será vista em todo o mundo, funcionando como uma poderosa propaganda para o futebol norte-americano. Se “Messi em Miami 1.0” provou que uma estrela incomparável poderia projetar a MLS globalmente, “Messi em Miami 2.0” visa levar essa promessa a patamares ainda mais elevados, consolidando o Inter Miami não apenas como um campeão, mas como um motor de transformação para toda a liga.
