O Mito da Alta Performance Contínua
No mundo corporativo, a busca incessante por alta performance muitas vezes nos leva a ignorar os limites do corpo e da mente. Especialistas como Saulo Velasco, psicólogo e consultor, comparam essa abordagem com a de atletas de elite, que precisam de recuperação e equilíbrio para manterem o desempenho. No entanto, a pressão por entregar o máximo todos os dias, por décadas, é insustentável. A lei de Yerkes-Dodson, da psicologia, ilustra que um certo nível de desafio impulsiona o desempenho, mas o estresse crônico o derruba. O ideal, portanto, não é a alta performance total, mas sim a performance ótima, um patamar onde a entrega de qualidade é mantida de forma contínua.
O Que São e Por Que as Micropausas Funcionam?
As micropausas, que podem durar de um a dez minutos, nasceram no contexto da ergonomia física, mas evoluíram para abranger a ergonomia cognitiva. Felipe Sitta, psicólogo ocupacional, explica que o cérebro, um dos órgãos que mais gasta energia, também necessita de recuperação. Estudos apontam que pausas curtas ao longo do expediente reduzem o estresse e melhoram o desempenho, funcionando como um recarregamento gradual da bateria. Marina Marzotto Mezzetti complementa que essas paradas rápidas promovem um ‘reset’ cerebral, ativam o nervo vago, diminuem a atividade do sistema de estresse e reorganizam o foco. A sugestão é trabalhar em ciclos de concentração de até 60 minutos, seguidos por uma pausa planejada, antes que a produtividade caia e o corpo sinalize exaustão.
O Que Fazer (e Evitar) nas Suas Pausas
Nem toda pausa é sinônimo de descanso. Pesquisas da Microsoft indicam que, sem intervalos adequados, o estresse aumenta com atividades contínuas como reuniões virtuais. Pausas de dez minutos com atividades relaxantes demonstraram reduzir o estresse e melhorar o engajamento. O ponto crucial é que a pausa seja feita longe das telas. A exposição a dispositivos, especialmente redes sociais, pode dar uma falsa sensação de descanso, mas mantém o cérebro em estado de alerta. Atividades recomendadas incluem caminhar, beber água com atenção, realizar exercícios respiratórios, alongar, olhar pela janela, lavar o rosto, ouvir música relaxante ou praticar meditação. O importante é que a pausa seja significativa e desconectada da tarefa anterior; responder um e-mail rápido ou tirar uma dúvida de trabalho não conta como pausa.
A Responsabilidade da Empresa na Promoção de Pausas
A cultura organizacional tem um papel fundamental na adoção de micropausas. Alexandre Pellaes critica a mentalidade de medir produtividade por horas de trabalho, herdada da era industrial, e defende a ‘qualidade de presença’. Empresas que incentivam pausas não estão apenas sendo benevolentes, mas sim inteligentes, pois investem na sustentabilidade da performance. A Microsoft, por exemplo, otimizou a duração de suas reuniões para criar intervalos automáticos. Apesar dos benefícios comprovados, o estigma em torno do descanso ainda é presente, com salas de descompressão vazias por receio de julgamento. Lideranças e RH precisam desmistificar a ideia de que pausa é preguiça, transformando-a em política e prática. A atualização da NR-1, que exige a inclusão de riscos psicossociais na gestão empresarial, reforça a importância regulatória e financeira do bem-estar no trabalho, com potenciais multas para o descumprimento. Líderes devem praticar e incentivar as micropausas, criando um ambiente de segurança psicológica onde os colaboradores se sintam à vontade para pausar sem medo de retaliações, garantindo resultados sustentáveis e saudáveis para todos.