Narcolepsia: Um Transtorno Subdiagnosticado e Preconceituoso
A narcolepsia, um distúrbio do sono que afeta principalmente jovens, ainda é cercada de desinformação e preconceito. Muitos pacientes são erroneamente vistos como preguiçosos, devido à sonolência diurna incontrolável, o que pode comprometer sua vida profissional e social. A Dra. Dalva Poyares, renomada especialista em distúrbios do sono e professora da Unifesp, destaca a gravidade do desconhecimento sobre a doença, inclusive entre profissionais de saúde.
Dois Tipos de Narcolepsia: Entendendo as Diferenças
Existem duas formas principais de narcolepsia. A narcolepsia tipo 2 é caracterizada por sonolência idiopática, ou seja, sem causa definida. Já a narcolepsia tipo 1 tem uma origem conhecida: a destruição de neurônios responsáveis pela produção de orexina (também chamada de hipocretina), um neurotransmissor essencial para o ciclo sono-vigília.
Sintomas Severos da Narcolepsia Tipo 1
A narcolepsia tipo 1 apresenta sintomas adicionais que impactam severamente a qualidade de vida dos pacientes. A cataplexia, perda súbita de tônus muscular desencadeada por emoções fortes (como risadas), paralisia do sono e alucinações são alguns deles. A Dra. Dalva Poyares descreve a cataplexia como um dos sintomas mais cruéis, pois a pessoa permanece consciente enquanto seu corpo “desmorona”, sem controle muscular e vocal, gerando constrangimento e medo de se machucar.
A cataplexia pode ser desencadeada tanto por emoções positivas quanto por sustos, colocando os pacientes em situações de risco, como a incapacidade de reagir em um assalto. O sono também é profundamente fragmentado, com inícios precoces da fase REM, o que pode levar a quedas abruptas de cadeiras se o paciente adormecer sentado.
Oveporexton: Uma Nova Fronteira no Tratamento
Até o momento, não existe cura para a narcolepsia, e o tratamento se concentrava no alívio dos sintomas. No entanto, uma nova esperança surge com o oveporexton, uma molécula desenvolvida pela Takeda. Estudos globais de fase 3 com o medicamento, apresentados recentemente no Congresso Mundial de Sono, demonstraram resultados promissores. O oveporexton atua como um substituto da orexina, ligando-se aos mesmos receptores e restaurando a função perdida.
Os resultados indicam que 63% dos participantes mantiveram níveis normais de vigília, e 85% experimentaram uma redução significativa nas crises de sonolência. Além disso, houve melhora expressiva em outros sintomas associados à narcolepsia tipo 1.
Causas e Consequências da Falta de Orexina
A destruição dos neurônios produtores de orexina, embora não totalmente compreendida, é provavelmente influenciada por uma predisposição genética. A teoria mais forte aponta para uma reação autoimune desencadeada por uma infecção, onde o sistema de defesa ataca os próprios neurônios. A falta de orexina também está ligada a alterações metabólicas, o que pode levar a uma tendência ao ganho de peso em pacientes com narcolepsia tipo 1.