2025/12 — Futebol feminino: calendário excessivo e lesões preocupam jogadoras
O cenário atual do futebol feminino global revela uma dicotomia preocupante: enquanto as atletas de elite enfrentam uma sobrecarga de calendário sem precedentes, gerando esgotamento e um risco elevado de lesões, outras jogadoras lutam contra a falta de oportunidades e tempo de jogo significativo. Essa dualidade expõe vulnerabilidades sistêmicas, onde o desenvolvimento e a saúde das atletas são comprometidos em ambas as extremidades do espectro competitivo. Há uma crescente preocupação com a sustentabilidade das carreiras e o bem-estar físico e mental no futebol feminino, exigindo uma reavaliação urgente das estruturas e do suporte oferecido às profissionais. O paradoxo do calendário: sobrecarga e subutilização O futebol feminino, em sua ascensão global, enfrenta o desafio de conciliar o aumento da visibilidade e profissionalização com a manutenção da saúde e longevidade das atletas. Um monitoramento recente da carga de trabalho das jogadoras evidenciou um contraste gritante entre diferentes níveis da modalidade. Nos campeonatos de ponta, como o alemão e o francês, a média de partidas disputadas pelas atletas em todas as competições é de apenas 14 por temporada, o que equivale a pouco mais de um jogo por mês. Esse volume insuficiente de jogos não apenas freia o desenvolvimento técnico e tático das jovens promessas, como também aumenta o risco de lesões, pois as atletas chegam menos preparadas para os poucos compromissos competitivos. O abismo nas ligas europeias e o impacto no desenvolvimento A Women’s Super League (WSL), a liga de futebol feminino da Inglaterra, é um exemplo claro dessa disparidade. Uma jogadora de um clube de elite como o Arsenal pode acumular o equivalente a 13 jogos completos a mais do que uma atleta de uma equipe da segunda divisão, como o Crystal Palace. Essa diferença acentuada no tempo de jogo cria um ciclo prejudicial. Atletas com poucos minutos em campo têm seu desenvolvimento limitado, perdem ritmo competitivo e, consequentemente, veem suas chances de convocação para seleções nacionais diminuírem, ampliando o fosso entre a base e o topo da pirâmide. Como salientou a jogadora da seleção espanhola Maitane Lopez, “Elas precisam de tempo competitivo, a subcarga é real. As jogadoras mais jovens não têm minutos suficientes para evoluir”, destacando a necessidade urgente de um calendário mais robusto para a maioria das atletas. O preço da elite: esgotamento e recuperação inadequada No polo oposto da balança, as estrelas do futebol feminino enfrentam um problema de sobrecarga intensa. Com o aumento da profissionalização e a expansão de competições nacionais e internacionais, as principais jogadoras da modalidade estão conciliando um número cada vez maior de partidas por seus clubes e seleções. No entanto, esse aumento na demanda física não tem sido acompanhado por um tempo de recuperação adequado ou por infraestruturas de suporte equivalentes às encontradas no futebol masculino, levando a um esgotamento físico e mental que compromete a performance e a saúde a longo prazo. O caso Aitana Bonmatí e a falta de suporte essencial O exemplo de Aitana Bonmatí, tricampeã da Bola de Ouro, é emblemático da elite sobrecarregada. Na última temporada, a meio-campista do Barcelona e da seleção espanhola fez impressionantes 60 aparições, ajudando seu clube a conquistar títulos nacionais e alcançar a final da Liga dos Campeões, além de disputar a final da Eurocopa pela Espanha. Esse ritmo exaustivo cobrou seu preço: aos 27 anos, Bonmatí foi afastada por cerca de cinco meses após passar por uma cirurgia para tratar uma fratura na fíbula esquerda, sofrida durante um treino com a seleção. Especialistas apontam que, embora jogadoras como Bonmatí atuem em grandes clubes, elas ainda não contam com as mesmas estruturas disponíveis no futebol masculino, como voos fretados, equipes próprias de nutrição e fisioterapia, e infraestrutura completa de recuperação. A jogadora Maitane Lopez complementa que a carga aumenta mais rápido do que os mecanismos criados para proteger as atletas. “Não têm as mesmas condições — nem perto — das equipes masculinas. É preciso investir mais em tudo ao redor das jogadoras, para que possam descansar e se recuperar. Burnout existe, saúde mental importa”, enfatizando a necessidade de um investimento abrangente na saúde e bem-estar das atletas. Conclusão A dicotomia entre a sobrecarga das estrelas e a subutilização de outras jogadoras representa um desafio complexo e multifacetado para o futebol feminino. Para garantir a sustentabilidade e o crescimento saudável da modalidade, é imperativo que as entidades responsáveis busquem um equilíbrio no calendário competitivo, invistam massivamente em infraestrutura de apoio e recuperação, e priorizem a saúde física e mental das atletas. A evolução do futebol feminino depende não apenas de talento e paixão, mas também de um ambiente que promova o bem-estar e o desenvolvimento pleno de todas as jogadoras, desde a base até o topo. FAQ Por que as jogadoras de elite do futebol feminino estão sobrecarregadas? As jogadoras de elite acumulam um grande número de partidas devido à conciliação de compromissos com seus clubes e seleções. Esse ritmo intenso, somado à falta de tempo adequado para recuperação e estruturas de suporte menos robustas que no masculino, leva ao esgotamento físico e mental. Qual o risco para as jogadoras com pouco tempo de jogo? A falta de tempo competitivo impede o desenvolvimento pleno das atletas, reduz seu preparo físico e técnico, aumenta o risco de lesões por falta de ritmo e preparo, e limita suas oportunidades de ascensão profissional e convocação para seleções. O que pode ser feito para melhorar a situação das jogadoras? É crucial reavaliar o calendário competitivo para buscar um maior equilíbrio. Além disso, é fundamental investir em infraestrutura de clubes e seleções, garantindo acesso a equipes completas de nutrição, fisioterapia, psicologia e recuperação, equiparando as condições às do futebol masculino. A discussão sobre o bem-estar das atletas é crucial para o futuro do futebol feminino. Compartilhe sua opinião sobre como podemos garantir um esporte mais justo e saudável para todas as jogadoras. Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br




