2025/12 — Maioria das advogadas vítimas de violência no Rio não denuncia agressores
Uma pesquisa recente lançada pela Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ) revelou um cenário preocupante: a ampla maioria das advogadas que sofrem violência física ou psicológica em seu cotidiano opta por não denunciar seus agressores. O levantamento, intitulado “Ser Advogada Não me Salva”, contou com a participação de quase mil profissionais do Direito, expondo a dimensão da violência contra advogadas e a subnotificação desses casos. Os dados são alarmantes, indicando que 67,7% das vítimas mantêm o silêncio, um número que ressalta a urgência de ações e debates sobre a segurança e o bem-estar dessas profissionais. A pesquisa joga luz sobre as barreiras que impedem a denúncia e a necessidade de um suporte mais eficaz para enfrentar este grave problema social. A face oculta da violência: dados alarmantes A pesquisa “Ser Advogada Não me Salva” abriu um canal para que profissionais do Direito pudessem compartilhar suas experiências, revelando uma realidade sombria para muitas. Dos 989 participantes voluntários, 78,6% declararam já ter sido vítimas de algum tipo de violência, um percentual que aponta para a ubiquidade do problema dentro e fora do ambiente profissional. O dado mais impactante, contudo, reside na taxa de subnotificação: mais de dois terços das advogadas agredidas – precisamente 67,7% – não procuraram as autoridades ou canais de denúncia, preferindo lidar com a situação em silêncio. Esta relutância em denunciar sugere um complexo emaranhado de fatores, que podem incluir o medo de represálias, a vergonha, a dependência econômica ou até mesmo a descrença na eficácia do sistema de justiça, mesmo para aquelas que o representam. A prevalência da violência psicológica Entre os diversos tipos de agressão reportados, a violência psicológica destacou-se como a forma mais recorrente, atingindo impressionantes 85,3% das vítimas. Esta categoria de violência, muitas vezes insidiosa e difícil de ser identificada ou comprovada, manifesta-se por meio de ameaças, humilhações, manipulação, controle excessivo, isolamento social, e desvalorização. Seus efeitos podem ser devastadores, minando a autoestima, a saúde mental e a capacidade profissional das vítimas. A alta prevalência da violência psicológica sublinha a necessidade de ampliar a conscientização sobre suas formas e impactos, e de oferecer suporte especializado para que as advogadas possam reconhecer e reagir a esses abusos, que nem sempre deixam marcas físicas visíveis, mas causam danos profundos e duradouros. Perfil das vítimas e agressores O levantamento também traçou um perfil tanto das advogadas vítimas quanto de seus agressores, oferecendo insights cruciais para a formulação de estratégias de combate. A vasta maioria das participantes (97,1%) se declarou mulher cisgênero, indicando um foco claro da pesquisa. As faixas etárias mais atingidas pela violência foram as de 35 a 45 anos (36,5%) e 25 a 35 anos (23,5%), ou seja, profissionais em pleno desenvolvimento de suas carreiras, muitas vezes construindo família e consolidando sua posição no mercado de trabalho. Quanto aos agressores, os resultados revelaram que a violência não se restringe apenas ao ambiente doméstico, mas também se estende ao âmbito profissional. Parceiros ou ex-parceiros foram apontados como os principais agressores (37,9%), seguido por colegas de profissão (17,2%). Esse dado é particularmente alarmante, pois expõe as advogadas à violência em múltiplas esferas de suas vidas, exigindo uma abordagem multifacetada para a proteção e o amparo. Além disso, quase metade das advogadas (49,7%) reside na capital fluminense, o que pode influenciar a dinâmica das denúncias e o acesso a redes de apoio. Impacto e ações em resposta A divulgação desses resultados não apenas escancara uma realidade dolorosa, mas também impulsiona a OAB-RJ a reforçar seu compromisso com a causa. A pesquisa serve como um catalisador para a criação de políticas mais robustas e para a ampliação da rede de apoio às advogadas. A liderança da instituição tem enfatizado a urgência de uma resposta coordenada para enfrentar esse desafio que transcende as barreiras da profissão, ecoando em toda a sociedade. A compreensão detalhada dos tipos de violência, perfis de vítimas e agressores é fundamental para direcionar os esforços de prevenção, proteção e punição, garantindo que as profissionais do Direito possam exercer sua função em um ambiente seguro e livre de discriminação. A voz da liderança da OAB-RJ A presidente da OAB-RJ, Ana Tereza Basilio, manifestou sua preocupação com os resultados e a situação geral no estado. Ela destacou que o Rio de Janeiro ainda ocupa o segundo lugar no país em casos de violência contra a mulher, um dado que reforça a gravidade e a abrangência do problema. Em suas palavras, “É urgente que o poder público priorize o enfrentamento deste sério problema social e nós, como ponte com a população, vamos lutar por isso.” A declaração da presidente da OAB-RJ não apenas sublinha a necessidade de intervenção estatal, mas também reafirma o papel da instituição como uma voz ativa na defesa dos direitos das mulheres, buscando catalisar mudanças significativas na legislação e nas práticas de combate à violência. Próximos passos e o papel da ouvidoria Diante dos primeiros e impactantes resultados da pesquisa, a Ouvidoria da Mulher da OAB-RJ já está trabalhando na próxima fase do projeto. Um novo levantamento está em andamento para identificar e estabelecer contato com cerca de 500 advogadas que expressaram o desejo de conversar mais detalhadamente com a equipe. Segundo Andréa Tinoco, ouvidora da Mulher da OAB-RJ, o principal objetivo dessa escuta ativa é oferecer apoio direto, estruturar políticas internas abrangentes de prevenção, orientação e conscientização. A meta é clara: criar um ambiente profissional mais seguro, acolhedor e equitativo para todas as advogadas. Tinoco enfatizou o compromisso da ouvidoria em “transformar esses números em políticas que garantam um exercício profissional livre de qualquer forma de violência e discriminação”, destacando que a escuta ativa das advogadas será o eixo central dessa construção de um futuro mais justo e seguro. Conclusão Os dados levantados pela OAB-RJ são um alerta contundente sobre a prevalência da violência contra advogadas e a alarmante taxa de subnotificação que permeia a realidade dessas profissionais no Rio de Janeiro. A pesquisa “Ser Advogada Não me Salva” não apenas quantifica o problema, mas também humaniza a urgência, revelando

